Atleta teve inscrição rejeitada porque não atuava na Confederação Brasileira de Judô, entidade voltada para atletas não surdos
Adalberto participará das seletivas para a Surdolimpíadas - Divulgação
Rio - O judoca Adalberto da Silva acompanhou as Olimpíadas de Tóquio 2020 pela TV. Ele nasceu surdo e trilhou sua vida através do esporte, chegando a conquistar mais de 200 medalhas. O atleta sonhava em dar continuidade em sua trajetória, lutando nos tatames da Surdolimpíadas (Deaflympics), que acontecerá, em maio deste ano, no Brasil.
O sonho de Adalberto, porém, foi frustrado nas últimas semanas quando teve sua inscrição indeferida na participação da seletiva nacional da competição sob o argumento de que estaria inativo na Confederação Brasileira de Judô (CBJ), que é voltada para atletas ouvintes (pessoas não surdas).
A seletiva nacional é organizada e regulamentada pela Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS), associação pela qual Adalberto está regularmente vinculado. Entretanto, de forma contraditória com a história do Judô de Surdos no Brasil, eles passaram a exigir que os atletas também estivessem associados à CBJ.
“Em toda a minha trajetória, essa foi a primeira vez em que eu passei por algo do tipo. Essa foi uma situação muito humilhante para todos os atletas surdos que também tiveram a inscrição negada. Se não fosse a ajuda da Defensoria, eu não teria conseguido participar da seletiva”, comentou Adalberto.
O atleta procurou o Núcleo de Atendimento à Pessoa com Deficiência (NUPED) da Defensoria Pública do Rio (DPRJ), que entrou com um pedido de tutela de urgência para que Adalberto tivesse o direito de participar da seletiva nacional, sem ser obrigado a se associar à Confederação Brasileira de Judô. A decisão foi favorável e garantiu que o atleta conseguisse competir.
Para o defensor público e coordenador do NUPED, Pedro González, esse caso representa uma quebra do princípio constitucional no qual todos são iguais perante a lei. “Se o atleta ouvinte não precisa estar filiado a uma federação de pessoas surdas, por que o atleta surdo precisa estar vinculado a federação de surdos e de ouvintes? Isso não se justifica”, explica o defensor.
Outro aspecto ressaltado por González, é a questão identitária. “As pessoas surdas se identificam como uma comunidade. Para isso, eles têm a sua própria competição, a Surdolimpíadas. Seria uma agressão muito clara à questão identitária, obrigar um atleta surdo a estar filiado a uma federação de ouvintes a qual ele não se identifica. É uma agressão à sua própria identidade enquanto pessoa surda”, completa.
A ação ainda segue para garantir que Adalberto possa participar de futuras competições também sem precisar se filiar à federação de ouvintes.
Fonte do Site: MEIA HORA
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